No Panamá temos duas estações do ano, em vez das quatro a que estamos habituados noutras latitudes: temos a estação seca, entre Janeiro e Março, e a húmida, entre Abril e Dezembro. Na estação seca, ainda assim muito húmida, não cai uma pinga do céu. Na das chuvas... chove torrencialmente, todos os dias. Uma coisa que se mantém, contudo, é a temperatura. Varia entre alta e muito alta, mais ainda com a humidade. Por isso, se há vantagem em tudo isto, é a de poder usar as minhas (várias) sandálias Fly London. Que eu amo, amo de paixão, e uso praticamente todos os dias. O design é bom, a construção excelente; aguentam até chuvadas tropicais sem fraquejar. Quando me encontro com amigas, perguntam-me onde comprei os meus sapatos. Acenam, em sinal de reconhecimento: "Só podiam ser europeias!" e a seguir desmoralizam um pouco com a resposta, afinal Portugal fica um pouco fora de caminho. Um detalhe intrigante é que a origem da marca é quase um segredo, só conhecido pelos iniciados: que a Fly London seja portuguesa é um detalhe que parece ser propositadamente escondido. Revistei os meus quatro pares e apenas dois têm, em letrinhas muito pequeninas, gravadas e desbotadas no couro: "made in Portugal". Cheia de curiosidade, entrei no site da marca e também lá falta uma referência a Portugal. Na secção "About", nada. Zero. Porquê? Pus-me a pensar no assunto: por que razão uma marca portuguesa, de excelência no design, nos materiais e na construção, não quer divulgar a sua proveniência? Uma marca que adoro de paixão, aliás, tal como adoro o meu país? Será que o problema é da marca? Ou será que é... nosso? Parece-me que o problema é mesmo nosso, dos portugueses. Com a abertura das nossas fronteiras à mercadoria estrangeira, criou-se um fenómeno - que, apesar de extremamente parolo, não é exclusivamente português, por isso nem vale a pena começar com os "só neste país..." que tanto repetimos - de apreciação de tudo o que vem de fora. Por contraposição, tudo o que era nacional era conotado como "feio", "barato" ou mesmo "de má qualidade". Os anos passaram-se, essa visão instalou-se. Talvez alguns produtos tradicionais alimentícios tenham escapado a este crivo, mas mesmo esses enquadravam-se no "típico" e "regional" que são sinónimos de "rústico". Hoje, carteiras contraídas, a nossa apreciação pelo que é português recomeça a ganhar espaço - e ainda bem, com toda a justiça e sem nenhum favor. Em Portugal produz-se bem; e, felizmente para nós, portugueses, cada vez mais se pensa seriamente no que se quer fazer, antes de fazer - ou seja, usa-se aquela ferramenta chamada "design". Mostremos, portanto, o nosso apreço pelas marcas portuguesas: não por serem "nossas", mas por fazerem bem, com bons materiais e com qualidade internacional. Pode ser que assim a Fly decida colocar, algures na sua imagem, "feita em Guimarães, com muito orgulho". (Texto e ilustração: Ana Isabel Ramos)
As minhas Fly…
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