Querida Justina,
Já sabes que gosto muito de viajar. Mas não é lá para fora; é cá dentro!
Fui ao planalto mirandês. Sempre foi um ponto de paragem e passagem. O meu pai nasceu em Trás-os-montes, em Miranda do Douro e os meus avós ficaram com vida feita em Barrocal do Douro, pequena aldeia do concelho. É interessante quando se vai a um lugar que já não é novo mas que depois de tantos anos está tão diferente que é como se nunca tivesse visitado; pela memória que já não lembra ou pelos espaços que já não estão.
Comemos uma bela posta n’A Lareira, restaurante no Mogadouro com uma batata rosti que estava uma maravilha! Ui!
Fomos directos a Picote, e quanto mais próximos estávamos, mais longe estava eu. Não me lembrava de nada. Nada. Havia a igreja principal que “quando eu era pequeno, o avô estava ali naquele tasco a comer salpicão e queijo com os amigos e não me deixou ir. Fiquei dentro do carro. Chateei-me e destravei o carro. Fui directo à porta da igreja”. Risos melancólicos do meu pai seguiram-se.
A aldeia estava deserta, com recantos e lembretes de que já tinha sido vivida. Muito vivida. O meu pai só exclamava que “havia tantos miúdos! Era só correria!”. Agora o barulho era outro. O do silêncio solarengo.
As placas em mirandês levaram-nos a um miradouro. Deixamos o carro sob a sombra e, veio prontamente uma senhora, rapariga nova vá, de Sendim dar-nos uma breve história sobre o lugar, a aldeia, o concelho, a vida. Vê lá! Convidou-nos a entrar, mostrou-nos até a sala de lembranças, “ponham um like na página de facebook da associação” e vimos as obras na fachada do edifício. Uma verdadeira anfitriã. Compramos alguns livros sobre etnografia e contos mirandeses, a língua da região e alguma pesquisa etnobotânica (este último estava “com desconto, porque aquele não se vende tanto”). O dito miradouro era um miradouro incrível para o douro internacional selvagem. Frauga do Puio. Uma garganta de rochedos de onde se via o lugar de Barrocal do Douro.
Barrocal. Antigamente nos anos 50 e 60 era um lugar onde engenheiros, técnicos e outros trabalhadores da barragem de Picote viviam. Foi construído de raiz por um conjunto de arquitectos e artistas (hoje vulgarmente chamados também de designers) que durante esses anos desenharam neste lugar remoto um dos grandes casos de estudo de arquitectura e design em Portugal. Havia uma estalagem, as casas dos engenheiros, as casas dos técnicos, shopping, correios, barbeiro, talho, igreja, um posto médico (onde trabalhava a minha avó) e até uma escola! Piscina, campo de ténis… enfim… Uma pequena cidade moderna!
Hoje está um profunda decadência. Algumas casas ainda estão habitadas mas já sem a estrutura e materiais originais. As casas de engenheiros, as mais bonitas e modernas de todas, estão completamente abandonadas, com vidros partidos e arrombadas. Não quis tirar uma fotografia… Desculpa-me!
Todo aquele cenário deixa saudade de um tempo que já passou e que ficou na memória de alguns poucos. Potencial para se reconstruir e restaurar? Muito! Deveria ser considerado um local protegido e um dos maiores casos de estudo da arquitectura modernista portuguesa. Museu vivo, qualquer coisa! Mexer com aquilo!
Deixa-me uma tristeza inocente e impotente. É algo que só imagino em histórias e em fotografias antigas.
É um dos casos do reflexo do panorama cultural desleixado português.
Quanto mais viajo cá dentro mais me apercebo que temos tanto de bom.
Tanto.
Um abraço com saudade, da Matilde
P.S: Se soubesse, tinha escrito em mirandês!!!
Foto 1: Acreditas que esta é a igreja da aldeia? Quão moderna!
Foto 2: A Frauga do Puio
Texto e fotografias: Matilde Horta para o Portugalize.Me
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