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As minhas Aldeias

1 Março, 2015

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Ontem retomei umas quantas memórias, tudo graças ao folhear atento do guia das Aldeias do Xisto. O começo do guia fez com que regressassem vivas e sensíveis ao que nos escreve o Papa-figos: “Vou guiar-te por um destino de montanhas e pessoas.”,… “Descobrir as Aldeias do Xisto é dar e receber uma palavra de cumprimento dos seus habitantes. Se deres mais umas quantas de conversa, receberás em troca uma história de vida. É um destino com alma.”

A idade marca a forma como descobrimos os lugares que vamos encontrando na vida. Os anos predispõem-nos a experiências muito diferenciadas e toldam a nossa maneira de contar as várias histórias inerentes a cada sítio. O Azêvo é para mim um lugar de idades, redescoberto várias vezes, ao longo dos anos. A cada idade lembro diferentes gentes da minha vida, habitantes reais ou fictícios das narrativas das minhas Aldeias (porque o Azêvo não é a única).

Não sei precisar a idade, sei que eram tempos de grande felicidade. De uma forma geral a minha infância foi assim, regada de momentos de intensa felicidade. Era habitual irmos ao Azêvo de cada vez que os meus primos e as minhas tias vinhas passar uns dias a Pinhel. Quatro crianças e três adultos enfiados num carro a caminho do Azêvo.

A meio do percurso começavam as cantorias, algumas novas, outras conhecidas, íamos variando, mas havia sempre uma que não podia faltar. Mal avistávamos a serra do Azêvo, lá vinha ela: “Olhó Azêvo, que lindo é/ Olhó Azêvo que bate o pé/ Olhó Azêvo, a nossa terra/ Escondidinha atrás da serra!”. Havia bis, tris e variadas versões por nós inventadas.

Depois vinham as histórias… do dia a dia na terra, do trabalho na ceifa, da infância reinventada a partir das árvores, das pedras, das correrias descalças pelas ruas de terra batida da Madalena (porque o Azêvo não era o Azêvo, era mais a Madalena, lugar da freguesia do Azêvo, terra da minha mãe e das minhas tias).

A música que era da terra, dava lugar às histórias de vida das minhas tias, da minha mãe… naquele momento voltavam a habitar aquele lugar e nós, as crianças, bebíamos daquelas narrativas coisas nunca antes ouvidas, tão distantes das nossas vivências citadinas.

As Aldeias da minha vida não são apenas feitas de casas de granito toscas e graciosas para turista ver, os verdadeiros monumentos são as pessoas e as suas histórias, os seus costumes, as relações que perduram e que passam de boca em boca numa cantiga, numa rima, numa memória.

Tenho recebido histórias de vida que enchem de significados os lugares por onde tenho passado. Faço questão de que seja assim.

Façamos perdurar um pouco mais as Aldeias da nossa vida para além da fiscalidade dos lugares, ampliemos a sua existência através das histórias dos seus habitantes porque num país tão pequeno, quem é que não tem tem a sua Aldeia?

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(Texto: Raquel Félix – Portugalize.Me)