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Para quem trabalha com têxteis, como eu (vide post sobre as mantas abbrigate*), uma das tarefas – e desafios – mais importantes é encontrar matérias-primas de qualidade e conhecer as suas origens. Aqui no Panamá acontece frequentemente o vendedor garantir-me que certo tecido é feito de “puro algodón”. Quando chego a casa e queimo um pedacito da fibra, constato imediatamente que o cheiro a plástico não engana.

Quanto à origem do tecido, essa parece ser uma informação desconhecida de todo e qualquer vendedor local. Por isso, encontrar materiais de qualidade é um processo de tentativa e erro, já que nem os próprios vendedores sabem ao certo a composição ou origem dos produtos que vendem.

Este hábito de procurar o material e o país de fabrico tem-se expandido para outros campos da minha vida: por exemplo, quando compro alguma peça de roupa, procuro sempre a etiqueta para verificar estes detalhes (e verifico a solidez das costuras). Raras vezes a matéria-prima é produzida perto do local onde é transformada, mas a pouca informação que obtenho é melhor que nada.

E que informações obtenho? Olhando para a etiqueta de uma t-shirt que comprei aqui no Panamá, na cadeia espanhola Zara, vejo que a peça é feita em Portugal, com algodão de agricultura biológica.

Fica comprovado que a nossa indústria é de nível internacional e que as peças que fabrica são de excelente qualidade, daí que várias marcas internacionais procurem a indústria portuguesa para satisfazer as suas encomendas.

Se a nossa indústria tem esta qualidade, porque é que não conseguimos associar esse valor acrescido a Portugal? Na minha opinião, o problema reside no facto de produzirmos para outros clientes, sem criarmos marcas próprias, às quais o público recorre porque sabe que dita marca é “boa” – isto é: desenha bem, emprega bons materiais, melhor construção e uma comunicação com o público que seja de primeira.

Penso que um dos pontos de partida para a revitalização da nossa indústria é a criação de marcas nacionais, em que o designer, grupo profissional a que pertenço, toma a iniciativa. Sabemos que o panorama económico nacional não é o melhor, mas também é nos momentos de crise que nascem grandes projectos.

Imaginemos, por exemplo, que queremos lançar uma marca de t-shirts de algodão proveniente de agricultura biológica. O designer pesquisa fornecedores da matéria-prima e estuda preços; procura fabricantes e desenha uma linha completa. Com o projecto quase todo feito, aborda os fabricantes. Da minha experiência, quando a proposta apresenta soluções concretas, a probabilidade de uma resposta afirmativa é mais alta.

Custear todo este projecto não é fácil, mas não é impossível: desde investidores públicos e privados, até aos próprios interessados no projecto, pode-se recorrer também àquilo a que se chama o “crowdfunding”, através de páginas como kickstarter.com, em que o público faz um micro-investimento num projecto em que acredita e recebe, caso o projecto avance, uma contrapartida.

Impossível? Não há impossíveis!

(Texto: Ana Isabel Ramos)