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Este fim-de-semana teve lugar a mais recente campanha do Banco Alimentar contra a fome. Dizem os números que, apesar da recolha deste ano ter sido um pouco inferior à do ano passado, foi grande, enorme até, tendo em conta que muitas famílias estão hoje com o orçamento mais apertado que há um ano.

Quando leio isto, não consigo evitar um arrepio, emociono-me. É incrível que numa altura tão difícil se continue a verificar que somos solidários.

São estes os exemplos que me fazem pensar que o ser humano é, essencialmente, bom. Dizer-se-ia que as dificuldades, não a bonança, trazem à superfície a solidariedade para com o próximo, porque um dia, esperemos que não, nos pode tocar a nós.

Li também na notícia que, pela primeira vez, a acção de recolha do Banco Alimentar foi estendida a Cabo Verde, com o apoio de uma associação local. Excelente ideia: o Banco Alimentar tem campanhas de recolha tão bem desenhadas que é fácil, mesmo, mesmo fácil, ajudar. E em Cabo Verde há muito quem precise – aliás, aqui em Portugal também.

Por associação de ideias lembrei-me de uma cena que vivemos na nossa visita à linda ilha do Fogo, Cabo Verde, em Março passado: por um azar na condução, demos connosco com a roda dianteira direita do nosso carro alugado caída num desnível. O carro estava assente nas outras três rodas e no chassis, e essa queda, apesar de relativamente pequena, foi bastante assustadora. Nesse momento pensámos que o passeio tinha acabado ali, havia que chamar o reboque, sabíamos lá quando chegaria.

Mas não: imediatamente se juntou ali um grupo de jovens daquela aldeia, que num instante se mobilizaram, levantaram o carro e o devolveram à estrada. Em menos de nada, o nosso passeio estava de novo – e literalmente – sobre rodas.

Quisemos agradecer com uma bebida fresca, mas o grupo recusou-se terminantemente a aceitar qualquer tipo de gratificação. Explicaram-nos então porquê: era seu dever tratar bem os forasteiros porque um dia poderiam vir a ser eles os estrangeiros, forçados a emigrar do seu país, e aí também eles gostariam de ser bem tratados.

A verdade é essa: hoje somos nós a dar um pacote de leite e outro de arroz na campanha do Banco Alimentar; amanhã poderemos ser nós a receber essa generosidade. A solidariedade é isso: é fazermos parte de uma comunidade que se entreajuda, que coopera pelo bem estar dos outros.

A solidariedade não se faz de taxas extraordinárias, mas sim de atenção, no dia-a-dia. Quando nos envolvemos com as pessoas que nos rodeiam, nos interessamos pelos vizinhos, fazemos voluntariado ou participamos em campanhas como esta, do Banco Alimentar. A solidariedade não é, necessariamente, dinheiro. Para mim, a solidariedade é tempo, tempo da nossa antena que dedicamos aos outros.

E vocês? Como foram solidários na última semana?

(Texto: Ana Isabel Ramos)