A Primavera que está cá dentro e não lá fora

3 Março, 2014

Portugalize.Me_primavera

Lá fora pode continuar a chover, mas aqui dentro o calendário já marca Março, o mês da chegada Primavera. E como é que sei? Sei-o ao olhar para as minhas orquídeas, que há semanas que me mostram que os dias já estão mais compridos. Primeiro, cresceram-lhes hastes novas onde eu não as esperava. Semanas depois, talvez por agora terem luz diurna durante mais tempo, despontaram botões, muitos. Os botões foram amadurecendo, crescendo, esbranquiçando – ou rosando, conforme o exemplar. E de há uns dias para cá tem sido uma festa com cada botão que abre. Celebro com tempo e alegria, olho para eles, aprecio a intrincada beleza de cada detalhe de cada flor.

De facto, a Primavera está aí, mesmo que não lá fora, certamente cá dentro.

O mesmo se aplica a mim: lá fora pode ainda ser Inverno, mas aqui dentro a Primavera está no ar. Para quê queixar-me do mau tempo, do frio e da chuva que não pára de cair? A chuva não vai parar por eu me queixar, mais vale então concentrar-me no que há de bom à minha volta: as orquídeas em flor, este espaço seco e quentinho em que trabalho, a manta em que me enrolo, o chá quente na chávena, o tricot que me aquece as mãos. Ouvir a chuva a cair lá fora, assim, tem outro encanto.

Sou “urbanita” e não sei até que ponto toda esta chuva é benéfica ou prejudicial para a nossa agricultura. Sei que as barragens estão na sua máxima capacidade e ainda bem: chegando o Verão talvez tenhamos mais capacidade de combater os incêndios. Sei que os campos estão verdes, em vez de amarelos. Sei que queixarmo-nos do tempo é tão inútil quanto regar cimento: dali nunca nascerá verde.

Por isso vou olhar outra vez para as minhas orquídeas, suas flores a abrir e seus botões, os botões que trazem neles a promessa de dias mais amenos, mais longos, também mais cheios. Em breve, ainda que só cá dentro, todas as flores das minhas orquídeas estarão abertas, oferecendo generosamente o seu espectáculo a quem o quiser apreciar. Com ou sem chuva lá fora. 

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)