De Fora para Dentro

17 Janeiro, 2014

 

Há duas semanas falava aqui das contas nulas de filmes portugueses nos Óscares mas este pode ser o ano da inversão da tendência. Ou não, mas eu de vez em quando também gosto de ser optimista. Mesmo que esse seja um optimismo irreal.

Voltando aos Óscares, claro que falo de Daniel Sousa, o português nascido em Cabo Verde que é o primeiro realizador nacional a ser nomeado para os prémios da Academia norte-americana. Sousa aparece na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação pelo filme “Feral“. Os detractores podem vir logo dizer que ‘ah é numa categoria menor‘. Não será das que enchem passadeiras vermelhas mas o prémio é (costuma ser) entregue na cerimónia e a categoria é tão competitiva como as outras. E também podem dizer ‘ah mas ele não é o único nomeado‘. Sim. Sousa co-assina a realização com Dan Golden, mas o que é que isso interessa? Em quase todas as categorias técnicas há vários nomeados. Os irmãos Cohen até já ganharam os dois o prémio para Melhor Realizador e no ano passado até houve um empate (foi apenas a sexta vez que tal aconteceu).

Feral” até trazia bastante pedigree perante a Academia. Ganhou o prémio para Melhor Filme de Animação no Anima Mundi, no Rio de Janeiro, e tem co-produção norte-americana. 

Convido os Portugalizers a irem até ao site oficial de Daniel Sousa. Estão lá os trailers para os cinco filmes do realizador, a saber, “Minotaur“, “Fable“, “The Windmill“, “Drift” e “Feral“. O seu nome deverá agora ser replicado pelos media e muito mais gente vai procurar ver o traço inquietante e misterioso do animador português.

Sousa cresceu por cá mas rapidamente se transferiu para os Estados Unidos. Hoje em dia integra o colectivo Handcranked Films Projects. Antes, formou-se na Rhode Island School of Design, onde lecciona. Também já deu aulas na Universidade de Harvard e no Art Institute de Boston.

Ainda dentro da animação feita por portugueses, a curta metragem “Sponge“, do colectivo lisboeta Sponge Creative Hub, é finalista da categoria de produções abaixo dos 10 mil dólares no festival de cinema de Nova Iorque, OneScreen. Os vencedores são anunciados no dia 28 deste mês. Olhando para a lista de nomeados em todas as categorias, há apenas três nacionalidades que não têm o inglês como língua nacional: um projecto coreano, um belga e os portugueses Sponge. Podem ver em baixo, a curta que serve tanto como cartão de visita desta empresa de novas tecnologias de imagem como da nossa capital.

No site do festival lê-se a sua missão: “OneScreen é o festival de cinema original para a comunidade criativa pela comunidade criativa. É muito mais do que uma noite só com publicidade. É uma extensão da missão de elevar os standards criativos na publicidade e no design em todas as suas formas”.

Se para a malta já estabelecida os prémios importantes significam mais zeros no cheque e muitas vezes a predilecção por projectos de qualidade menor, para artistas fora do sistema serve como um meio de luxo para se darem a conhecer. O paradoxo é darem-se a conhecer para dentro dos seus próprios países.

(Texto: Rita Tristany Barregão)