fa·zen·da
(latim vulgar *facenda, do latim facienda, gerundivo de facio, -ere, fazer, executar)
substantivo feminino
1. Bens, haveres.
2. Herdade destinada a grande cultura.
3. Finanças públicas.
4. Tecido; pano; estofo.
5. Mercadoria.
6. Géneros destinados à venda.
7. [Antigo] Peleja; acção.
8. [Antigo] Reputação de mulher honesta.
9. [Portugal: Trás-os-Montes] Rebanho.
10. [Figurado] Qualidade; carácter.
“fazenda”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Mais do que vender fazendas, o Sr. Zé do Luís Alves… (e assim começa a história, pelo nome próprio do Sr. Zé que, de cada vez que é nomeado, não é só o seu nome que é usado, mas o de outrem também porque as terras pequenas, os lugares, os bairros, as comunidades mais próximas têm destas bizarrias)… vende um pouco de tudo.
O seu principal produto não é coisa física em si, é uma forma de vender, de fazer negócio, de lidar com estas coisas de se ter uma loja que tudo é, que “combate” em várias frentes. Ali, somos todos potenciais fregueses. A minha mãe pedia-me para comprar três metros de forro e eu lá ia ao Sr. Zé… “A qual Zé mãe?“… “Ao do Luís Alves, filha!“… “Ao das portas grandes!?“… “Sim esse!“… e eu, na minha pequenez, parava em frente à loja das Fazendas, certificava-me de que as portas eram mesmo grandes e entrava. Pedia o forro ao Sr. Zé e ele, com o metro feito de madeira, media os metros, um a um, num movimento amplo entre forro, braços e dedos.
Regressava com o forro… faltava o fecho… voltava ao Sr. Zé sem necessidade de levar recados elaborados, bastava apenas um dizer: “Sr. Zé, a minha mãe precisa de um fecho para dar com o forro que levei“… ele abria as gavetas gigantes e expunha uns quantos fechos numas quantas variações da cor do forro que eu tinha levado… e ali ficávamos os dois, a tentar escolher a melhor cor… “Levas este à tua mãe e se ela não gostar da cor voltas cá… só pagas depois…“… e eu lá regressava e eu lá voltava… e eu lá regressava… e aquilo, por vezes, eram viagens e mais viagens, duas, três, quatro…
A coisa continua mais ou menos assim por lá.
E ao fim do dia, o Sr. Zé do Luís Alves, fecha as enormes portas da loja deixando sempre uma espécie de cenário montado… um dia a alegoria faz jus às cadeiras de praia, num outro às flores artificiais, aos santos, aos jogos para crianças, às toalhas, aos conjuntos de lençóis… as montras do Sr. Zé estão sempre iluminadas, as montras do Sr. Zé são um convite ao imaginário ainda intacto do que é uma loja à “moda antiga”, uma viagem a um passado ainda presente.
(Texto e Imagens: Raquel Félix – Portugalize.Me)