O lado bom da crise

26 Maio, 2013

Mal dispostos de serviço, podem ir dar um passeio. Hoje falo aqui de uma boa notícia da nossa economia. Pode parecer uma contradição, mas não é.

Ontem lia as notícias na minha conta de Twitter quando deparei com esta, em particular, da RTP Notícias (@RTPN): “Número de novas empresas em Portugal atingiu o valor mais alto dos últimos 5 anos:…”. Abri o vídeo e alegrei-me com os dados: confirma-se uma tendência importante de crescimento na abertura de novas empresas; o saldo entre as que fecham e as que abrem continua a ser largamente positivo; e o sector onde se regista um aumento maior de número de empresas é o primário.

Estes dados deixaram-me muito feliz por constatar uma tendência que tenho vindo a observar no meu dia-a-dia lisboeta: a par da preocupação que a sempre presente crise nos deixa, sente-se uma vitalidade no ar. Fecham umas lojas, abrem novas, com serviços interessantes, inovadores. Por vezes, acabam por não ter sucesso e voltam a fechar, o que não é vergonha nenhuma. Outras vezes, estes novos serviços vêm suprir necessidades e estão sempre, sempre cheios.

É bom sinal.

Uma vez, em Buenos Aires, conversava com um amigo argentino, que me contava que antes da crise de 2001 não havia muito que fazer ao fim-de-semana. O programa mais inovador era passear no shopping. Soou-me familiar.

Com a chegada da crise, a desvalorização do peso, a perda do poder de compra e a incapacidade de adquirir produtos importados, os argentinos foram obrigados a puxar pela imaginação e a arriscar. Em 2006, quando cheguei a Buenos Aires, fiquei impressionada com o dinamismo da cidade, a diversidade de cafés, livrarias, lojas, marcas de roupa locais ou pequenas boutiques de designers independentes. Nunca tinha sentido numa cidade uma efervescência como aquela.

Hoje observo a mesma tendência em Lisboa, e fico contente por saber que o fenómeno não é exclusivo da capital. Porque ficaram sem alternativas, muitos portugueses decidiram criar um caminho novo para si, em vez de esperar que alguém lho apresentasse.

Noto uma mudança de mentalidade e de atitude que me parece importante, necessária e útil: hoje, já não é vergonha nenhuma um licenciado trabalhar na agricultura ou num restaurante. Hoje, já esperamos um bom atendimento nos serviços, em geral, quer públicos quer privados. Hoje, já se sente que os serviços foram melhorados para serem mais simples, mais rápidos.

E tudo isto é positivo.

Continua a haver muito para melhorar, mas estamos no bom caminho. E vocês? Em que áreas notam diferenças?

(Texto: Ana Isabel Ramos)