Ode a um país moderno

26 Maio, 2018

Dia 22 de maio de 1998. Portugal abria as sua portas enferrujadas ao mundo (qual país, à época, acoitadado).

Sempre nos faltou a vivência do amor próprio. Não o amor próprio em si, porque quando alguém fala mal de Portugal ou de um português, conseguimos ser ferrenhos e jocosos na defesa própria. O que não sabemos fazer lá muito bem é expressar o amor ao que é nosso entre nós, e vivê-lo de forma consistente. Somos uns merdas entre nós… bem, se calhar menos… só merdosos (acto mais esporádico e inconsistente). Em 20 anos talvez tenhamos conseguido ganhar algum respeito pelo que somos, temos e fazemos (o fado e o cante alentejano já são moda, deixaram a sua má fama para trás, ganhámos o Festival da Eurovisão em 2017 e, ao que parece, até sabemos organizar eventos de grande envergadura).

E eis que de repente Portugal está na moda (ou parte dele porque o interior continua deserto e a gemer de dores de crescimento tardio). Somos lindos, very nice and typical, calorosos e uns amores para a estrangeirada fugaz e cheia do money. Vendemos casas em barda com preços ao nível de Manhattan e isto é bom, é sinal que somos espertalhões com o real estate!!. Somos também muito digitais pois usamos plataformas unicórnio e da moda como se estivéssemos em Silicon Valley. O tempo da troika já lá vai, já nem nos lembramos disso… troika??!!… aquela discoteca de Centro Comercial dos 80’s que fechou?

A Expo 98 foi sem dúvida um marco e um sinal da nossa capacidade, foi um primeiro holofote sobre o nosso país. Outros holofotes se seguiram e outros hão-de vir e desculpem-me o meu fel, não tenho nada contra holofotes, só tenho pena que a luz que projectam não alcance outras zonas do país ou outras vertentes. Os holofotes têm destas coisas, são bons a entreter e a captar ou a desviar a atenção das pessoas (o tal jogo de luzes).

Apenas vos quero dizer sim, vivam as Expos 98 dessa vida, mas vivam também as zonas distantes destes feitos e destes marcos do país (só porque os holofotes não chegam lá, não quer dizer que não haja nada para se ver).

Um bom fim de semana.

Texto: Raquel Félix – Portugalize.Me

Fotografia: The Portrait City (©The Portrait City // ©Raquel Félix)