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“Última chamada”

4 Março, 2013

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O dia chegou. Hoje deixamos para trás o Panamá, país que foi a nossa casa durante os últimos três anos. Hoje também é o dia em que terminam seis anos de vida latino-americana, uma experiência que foi uma verdadeira escola.

Na América Latina aprendi várias coisas que considero muito importantes: a primeira é que não devemos estar à espera que ninguém nos resolva os nossos problemas. Isso foi especialmente evidente na Argentina, país em que uma grande parte dos cidadãos tem uma imensa desconfiança nas instituições. O acesso ao crédito bancário é inexistente; a justiça – salvo as honrosas excepções – é toldada pelas influências de uns e de outros; a educação pública é deficitária e a saúde, que dizer? Apesar da excelente educação que os técnicos recebem, o dinheiro falta em todo o lado e quem fica a perder é o paciente.

Mas os argentinos não se resignam, e encaram as crises sucessivas, a inflação galopante, a instabilidade e a constante mudança das regras do jogo com algo mais que resignação. Apesar do panorama, trabalham muito para poder desfrutar a vida. Lembro-me de um professor meu que comentava a crise que se vivia na Europa como algo a que eles, argentinos, estavam tão habituados que já nem era notícia.

Aqui no Panamá aprendi que a vida é para desfrutar, seja como for. São as coisas simples da vida que nos fazem felizes: música, amigos, festa. E se bem que o reggaeton não é o estilo que corresponde às minhas preferências musicais, não posso deixar de admirar a capacidade panamenha de com pouco fazer uma grande festa. Apesar da carestia, do governo e de tudo o mais, o panamenho goza a vida todos os dias.

Mas a aprendizagem mais importante foi a de saber valorizar Portugal. Há tantos aspectos que são considerados por nós, portugueses, como dados adquiridos. Coisas prosaicas, como as pinturas do pavimento bem desenhadas, ou aspectos fulcrais como um bom sistema de correios, ferramenta essencial para os negócios, em geral, e para o meu pequeno negócio, em particular. E não, no Panamá não há números nas portas, carteiros ou entrega do correio ao domicílio. Parece mentira? Não é.

É por tudo isto que olho para trás com nostalgia e para o futuro com alegria. Em Lisboa, nossa próxima paragem, vou ser local e vou ser estrangeira. Nem a cidade é hoje o que era há seis anos, nem eu sou a pessoa que era quando parti. Vai ser uma adaptação a um novo país e a uma nova cidade, que são meus.

Vamos a isso.

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)