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A caça ao musgo

10 Dezembro, 2013

Presepio_(3)

Fazer o presépio era mais importante do que fazer a árvore de Natal. Era assim para mim, na minha tenra idade, talvez até aos meus 12 anos. Não me recordo bem, a idade não é relevante. Tudo começava com a árvore que, depois de enfeitada, exigia a seus pés um presépio, qual rol de figuras humanas e animais para dar mais vida ao canto natalício lá de casa.

E o ritual começava. A melhor parte era a “colheita” do musgo, nem muito seco, nem muito húmido. E lá íamos nós pelo nevoeiro à procura das melhores paredes, das melhores encostas, no meio de um frio de “rachar ossos”. Íamos à “caça” do musgo, como num jogo.

Aquilo nada tinha a ver com religiosidade, não era isso que me fazia ir, era a brincadeira, o lado de aventura que incutia a este ritual. Raramente nos passava pela cabeça que estávamos a recriar a vinda do “salvador”, a mim, à minha irmã e ao meu pai, mas a mãe lá de casa, mais devota que todos nós juntos, lá nos explicava as histórias da cristandade, da estrela, do burrinho, da Maria no burrinho, dos réis magos que viriam para o nascimento do menino, dos habitantes de Belém, do José desesperado por encontrar um sítio para a sua família.

Para mim não era religião, eram histórias que me faziam querer mais histórias e à medida que as ouvia, o presépio ganhava forma, vida, mais vida porque a figura de barro passava a ter um contexto, uma voz, uma presença. “Agora há que compor o cenário”… e eu imaginava a aguadeira perto dos pastores, não fossem eles ter sede. Um trovador para dar alegria ao estábulo, uma peixeira para matar a fome ao José, à Maria, aos réis magos. Talvez se pudesse fazer uma banquete, uma espécie de piquenique assim que eles chegassem.

O manto verde, ainda com gotas do orvalho, estava pronto. O menino só era colocado na manjedoura no dia do seu nascimento, os réis magos aproximavam-se do estábulo à medida que chegava o dia de réis para oferecerem o ouro, o incenso e a mirra.

Era assim a “caça” ao musgo.

(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me)