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Em primeiro lugar, quero desejar a todos os leitores do Portugalize.me um excelente ano novo. Espero que todos juntos, com muito trabalho e empenho, possamos fazer de 2013 um ano muito bom.

Mas hoje gostava de vos falar de um lugar que visitei durante a quadra natalícia. Estive em Vancouver, no Canadá, país que hoje é um caldeirão cultural onde se misturam pessoas das proveniências mais diversas.

A história do Canadá nem sempre foi de tolerância pela diferença, bem pelo contrário. Há meio século atrás, a comunidade chinesa de Vancouver tinha as suas liberdades muito limitadas e não podia aceder à educação superior que permitiria formar médicos, engenheiros ou advogados dentro da comunidade.

Para além disso, as Primeiras Nações foram reprimidas por uma minoria branca e sofreram sucessivas tentativas de assimilação na sociedade, através de várias estratégias, entre elas as escolas residenciais. As crianças que pertenciam a grupos étnicos nativos do Canadá eram retiradas do cuidado dos seus pais, contra a sua vontade, e internadas nestas escolas, com o objectivo de as educar num ambiente “europeu” e para cortar a transmissão de pais para filhos da cultura nativa.

E porque é que conto isto? Porque o Canadá mostrou ao mundo que a mudança é possível, e em relativamente pouco tempo. Claro que ainda há conflitos para resolver e diferenças para sanar, mas hoje é um país multicultural, multilingue, aberto à imigração e receptivo a refugiados. É um país pujante, onde a recessão financeira se sente pouco.

Enquanto passeava pela cidade, e depois pelo campo, senti-me num lugar quase familiar, onde a minha diferença não é singular. Encontrei várias vezes a bandeira de Portugal, sapatos portugueses em várias montras, artesanato português no Museu de Antropologia da Universidade da Colômbia Britânica. Fui atendida por canadianos dos quatro cantos do mundo que sabiam localizar o meu país; alguns cumprimentaram-me com um “bom dia” em português. Senti que ser de fora não significava ser estrangeira, como sinto aqui no Panamá e senti, durante os anos em que lá vivi, na Argentina.

A cultura de respeito pela diferença estende-se a mais questões sociais: os casais homossexuais, por exemplo, gozam dos mesmos direitos e deveres que os heterossexuais, entre eles o direito à adopção e o acesso a tratamentos de fertilidade. Nós, em Portugal, vamos no caminho certo, mas precisamos de fazer mais. Depois de registarmos na nossa Constituição que o casamento é um contrato entre duas pessoas, suprimindo a antiga menção “de sexos opostos”, temos de passar a alargar a adopção a estes casais. E temos de permitir que os casais que assim o desejem possam aceder a tratamentos de reprodução assistida. Ainda há muito que fazer em termos de igualdade e de respeito pela diferença, e cabe-nos a cada um de nós fazê-lo.

Bem sei que a história de Portugal é muito diferente da do Canadá; também o são a geografia e a demografia. Mas a pauta de tolerância e de respeito, essa, deve ser semelhante. O meu desejo é que todos nós saibamos receber não só quem vem de fora e escolhe o nosso país para procurar uma nova vida, mas também quem cá – digo, aí em Portugal – está e pensa de uma forma diferente da nossa.

É este um dos meus desejos para 2013. Bom ano!

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)