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Em Dezembro de 2013, a dieta mediterrânica ganha a classificação de Património Mundial e Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A candidatura transnacional foi subscrita por sete Estados com culturas mediterrânicas, entre eles Portugal, Chipre, Croácia, Grécia, Espanha, Itália e Marrocos.

Deste então, temos o dever de “saber” comer, “saber” cuidar e de “saber” viver este imenso e rico Património partilhado à escala mundial!

A bacia do Mediterrâneo estende-se cerca de 3800 km de leste para oeste, desde o extremo de Portugal até à costa do Líbano, e cerca de 1000 km de norte para sul, desde a Itália até Marrocos e à Líbia.” Esta geografia é o mote para que possamos afirmar, só pode haver Mediterrâneo à nossa mesa!

A dieta mediterrânica é mais do que um compêndio cirúrgico de índole nutricional (dieta tem a sua raiz na palavra grega díaita, que significa modo de vida), ela existe à luz da vertente gastronómica, sociológica e antropológica que caracterizam cada comunidade fazendo nascer o estilo de vida mediterrânico.

O livro: “Viver Portugal com o Mediterrâneo à Mesa”, abre-nos a porta da longa história e das muitas influências inerentes às nossas raízes gastronómicas. Não nos sabermos deste forma é pecado maior que a gula!

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Dos dez mandamentos passamos para os dez fundamentos que sustentam um modo de viver mediterrânico mais saudável:

  1. “Frugalidade e simplicidade de uma cozinha caseira baseada em nutrientes contidos nas sopas, cozidos, ensopados e caldeiradas, entre outros;
  2. Elevado consumo de vegetais em detrimento da ingestão de produtos de origem animal, nomeadamente produtos hortícolas, frutas, cereais pouco refinados e pão de qualidade, leguminosas secas e frescas, frutos secos e oleaginosas;
  3. Consumo de produtos produzidos localmente ou nas proximidades, frescos e de cada época do ano;
  4. Consumo de azeite como principal gordura culinária e de acompanhamento de pratos;
  5. Consumo moderado de lacticínios;
  6. Utilização de ervas aromáticas como tempero alternativo ao sal de cozinha;
  7. Consumo frequente de pescado e baixo consumo de carnes vermelhas;
  8. Consumo moderado de vinho às refeições;
  9. Água como bebida de excelência ao longo do dia;
  10. Convivialidade à volta da mesa.”

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As diferentes influências de povos como os Fenícios, Romanos e Árabes não podem ficar de fora desta imensa história pois deixaram marcas de riqueza profunda na nossa forma de comer. Com os Descobrimentos, um Novo Mundo surge e a nossa “cozinha” amplia-se (podemos referir a forte influência da cana de açúcar, vinda do Brasil, para a doçaria conventual portuguesa e de produtos como os pimentos, o tomate, as especiarias das índias… entre muitos outros).

Ricos ventos soprados do Novo Mundo refrescaram a cozinha portuguesa e cuja influência no sul do país lhe enriqueceu a sua personalidade de inspiração mediterrânica.

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A espinha dorsal da dieta luso-mediterrânica, apesar das variadas influências e dos longos anos que por ela passaram, manteve-se intacta na sua essência. Ela acolhe no seu âmago a santíssima trindade dos alimentos: o azeite, o pão e o vinho. Estes três elementos unem as diferentes comunidades que fazem “viver” a dieta mediterrânica!

E para que possamos “apreciar-nos” um pouco mais, Ferran Adrià, famoso cozinheiro catalão, revela-nos:

O desconhecimento que as pessoas têm da qualidade do peixe e do marisco em Portugal. E do mal que Portugal vende estes produtos no mundo. Diz-se que a Galiza te o melhor marisco do mundo… Para mim, Portugal tem o melhor marisco do mundo. É maravilhoso! Impressionou-me.” (Expresso 19/02/2011)


Texto e imagens: Raquel Félix (Portugalize.Me)