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Aprendizagens

16 Julho, 2012

É impossível não ouvir comentários à recente descoberta do currículo académico de Miguel Relvas. A verdade é que, num primeiro momento, também eu me indignei com a licenciatura expresso e a comparei com a minha licenciatura, feita em cinco anos e com muito trabalho. Na Faculdade de Belas Artes não tínhamos a pausa curricular para exames, pelo que aulas, trabalhos práticos e exames se sobrepunham. E era muita sobreposição.

Estive a pensar bastante sobre a questão de lhe terem sido aprovadas equivalências às cadeiras do curso de forma extraordinária, com base no seu percurso profissional. Se o princípio não me desagrada, a forma como foi executado deixa muito a desejar. Mas adiante.

Volto então à tal indignação inicial por eu me ter esforçado muito para tirar um curso; por ter trabalhado enquanto estudava e por não ver reconhecida a minha experiência com equivalência a alguma das cadeiras. Depois caí em mim: a minha faculdade deu-me uma preparação teórica muito boa.

O curso foi trabalhoso, mas obrigou-me a desenvolver estratégias de organização entre várias tarefas, a resolver problemas com mais rapidez e a executar projectos de forma mais expedita. O meu curso não foi um mar de rosas nem todos os professores mereciam, na minha opinião, o cargo que tinham. Mas lá no meio encontrei alguns dos melhores, mais interessados e mais interessantes professores que tive, que partilhavam os seus conhecimentos com paixão e que realmente queriam que os alunos aprendessem.

O meu curso, Design de Comunicação, ensinou-me o aspecto que me é mais útil na minha vida profissional. Não falo de manejo de programas de design, mas sim de entender que cada projecto é diferente e que para cada novo projecto temos de investigar, estudar e preparar-nos. Se tenho uma sinalética de hospital para desenhar, tenho de ir estudar sobre o assunto; se tenho uma infografia para fazer sobre um processo que desconheço, tenho de o estudar, entender e traduzi-lo visualmente.

Por isso, não tenho pena de ter passado cinco anos a trabalhar arduamente para obter a minha licenciatura, a estudar e a trabalhar ao mesmo tempo. Não tenho pena de me terem ensinado como me devia preparar para cumprir um prazo de entrega, nem tenho pena de ter aprendido sobre teoria da cor, os mecanismos da visão e do cérebro ou mesmo estética.

Tenho pena, claro, de ter tido alguns professores a roçar o imbecil, a abusar da sua autoridade; lamentavelmente, há gente dessa em todo o lado e o mundo académico não é excepção. Mas não tenho pena de ter passado cinco anos da minha vida a estudar coisas novas e a preparar-me para a minha vida profissional. Se o Sr. Ministro fez o mesmo num ano, só posso concluir que o prejudicado é ele, pois achou que ter o grau académico era mais importante que, de facto, aprender.

(Texto: Ana Isabel Ramos)