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Há uma parte do nosso país, que por vezes o nosso parco olhar urbano, faz esquecer a riqueza. E muito contra mim falo.

Uma terra rica de húmus (o que inspirou o Raúl Brandão, digo) e de gente, onde é fácil crescer e ver medrar, onde os frutos da terra chegam até nós sãos, odorados e colorados com uma pureza rara. Tenho o privilegio de ter construído memórias de infância sob esses ceús e cheia desses ares.

Falo da agora conhecida como Região Oeste de Portugal, um pedaço de Estremadura, uma zona que em termos comerciais ainda alimenta Lisboa com a sua produção aviária, agropecuária, vitivinícola, agrícola no geral. Digo ainda, por me parecem cada vezes menos os redutos que não sucumbiram à europeização da oferta e às pressões mercantilistas da UE – não será esta uma exaltação política de patriotismo, mas sim um reconhecimento humilde da qualidade do que cá temos e a que podemos chamar nosso, e que infelizmente cada vez menos nos pára no prato.

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Há pouco tempo a sorte ditou que tivesse a oportunidade de, estando em passeata pelas Caldas da Rainha, a capital do Oeste, pudesse visitar o seu mercado – aberto durante todo ano, chuva ou sol a céu aberto.

Apesar da oferta ser em tudo semelhante a tantos outros mercados que existem no país, a frescura de tudo mostrava o quão perto estavam da origem, quase se podendo contar num só folgo, as horas que tinham passado até chegarem às bancas. A menos de uma hora de Lisboa ainda podemos recuperar o cheiro da fruta, a cor da hortaliça, o sabor do pão, o coalho do queijo fresco.

Depois de ultrapassar a leve tristeza de não me poder passear naquele mercado diariamente, fui instintivamente levada a apurar os sentidos, e em modo de serpenteante curiosidade e alerta deixar-me levar por entre os caixotes de madeira com as nabiças, os vasos com hortelã, as sacas das batatas, a paleta indefinida de cores que vai da farinheira ao chouriço de sangue… mas acima de tudo sentir-me privilegiada por ainda poder dizer que sou dali, e rica ao limpar do queixo o sumo que escorreu do pêssego à primeira dentada!

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(Texto e Imagens: Samanta Velho para o Portugalize.Me)