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Uma das melhores partes de uma viagem é a sua preparação prévia. Escolher um sítio e imaginar o que advém, é viagem por si só. Preparei-me para o Alentejo, junto às margem do grande lago artificial da barragem do Alqueva (o maior lago artificial da Europa). Sair da cidade, procurar sossego, sem gadgets, sem TV, sem net, com pouca rede acessível, ir para um lugar remoto… encontrei tudo isto no Monte Falperras.

Chegada ao Monte, num lugar chamado Terreiro do Rossio, muito perto da transladada aldeia da Luz, procuro uma recepção. Toco à campainha, a porta abre-se com um sorriso e uma troca de nomes: “Olá sou a Raquel… é o Diogo certo?”. O Monte é uma casa “aberta”, sem portões, nem vedações, muros ou barreiras de outra espécie. Uma casa “aberta” rodeada de vastas vistas. De um lado, uma das margens da barragem do Alqueva, de um outro um mar de oliveiras, um pomar e um monte com feno acabado de cortar.

Sim, sou o Diogo.” E assim recebe, num tom de voz suave, baixo como que perfeita e propositadamente enquadrado naquele lugar de sossego… nem a voz fere a ausência de ruído, ela junta-se ao coro de sons da natureza, dos pássaros, das cigarras, das abelhas, das rãs… e o Diogo continua, mostra a casa, o quarto à medida que conta a sua façanha com um gato, escondido no sítio mais improvável da casa: “… e a casa nem tem muitos móveis…“. Não precisa, a paisagem, o sol, os cheiros, enchem a casa, fazem o resto.

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A casa do Monte foi um processo de reconstrução que durou uns quantos anos. Parte das terras da família do Diogo ficaram submersas pelas águas do Alqueva, o Monte permaneceu. A transformação partiu do engenho do Diogo (Arquitecto de formação) e das várias mãos que trabalharam a casa. Métodos modernos com métodos mais antigos e artesanais. Tal como o chão dos quartos em cimento, que tem um processo de cura muito particular (usar os métodos mais tradicionais e artesanais leva tempo), a casa em si precisou de tempo de cura para se tornar no que é hoje (mas sempre com espaço para mais qualquer coisa).

É tudo tão natural em especial o sentimento de pertença imediato ao lugar.

A noite cai e da sala de estar chega a voz suave de Lhasa de Sela… nem a voz consegue ferir o silêncio do Monte, nem a voz… saio para jantar. Faz-se ali por perto, por Mourão na Adega Velha. Regresso com uma “barrigada” de cozido de grão (uma dose dá para 4 pessoas!). Regresso, e mais um dedo de conversa com o Diogo, um bon vivant por natureza. Vou para o quarto e adormeço profundamente.

O acordar é suave, como suave é a vida por ali (talvez romanceie demasiado esta parte… mas haja um lugar assim, nem que seja ampliado pelo fervor dos meus desejos). O pequeno almoço serve-se numa mesa corrida de 12 pessoas. Bolo caseiro (maravilhoso), sumos naturais, queijo da zona, fruta, compotas feitas para a ocasião, pão alentejano… o perfeito despertar. E depois, um lugar ao sol, “Debaixo do Sol”, como o Chatwin que ando a ler… perto da piscina com vista para o Alqueva, debaixo de uma oliveira… qualquer lugar é “casa”, qualquer lugar ali é “pertença”.

Este é um Alentejo que chega e convida a ficar.

(Texto e Imagens: Raquel Félix – Portugalize.Me)