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Independentemente do resultado da reunião da UNESCO, que foi positivo, o Cante Alentejano já tinha ganho com tudo isto. É claro que a aproximação da efeméride coloca muita gente a partilhar artigos sobre o Cante no Facebook ou a falar dele no geral, quando nunca esteve na sua lista de prioridades.

Eu própria, fui ver o “Alentejo, Alentejo” do Sérgio Trefaut e fiquei conquistada. O filme estreou em festival no ano passado, mas eu só o vi há uns meses e em grande parte vi-o porque chegou às salas comerciais precisamente como parte da campanha para a chegada a Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

Com tudo isto, ganhou o Cante uma nova vida e ganhámos nós também. O filme de Trefaut, e a quantidade de artigos que o acompanharam e que agora aparecem devido à decisão da UNESCO, mostra que a malta nova voltou a interessar-se por este cantar tão impressionante e importante. Deram-lhe a volta à sua maneira (vão lá ver ao YouTube o grupo de jovens de Beja, Os Bubedanas ou os ainda mais novinhos Rouxinóis da Damaia), ‘amodernizaram’ algo que nunca envelheceu, apenas esteve escondido (e foi até visto como foleiro) demasiado tempo. Se nos lembrarmos, aconteceu o mesmo também com o fado ali no final dos anos 70, todos os 80 e grande parte dos 90.

Depois apareceram aquelas vozes que hoje ainda dizemos serem do novo fado (são do novo fado há mais de dez anos pelo menos) e agora, enfim, a história é conhecida. «Os alentejanos sempre foram gente circunspecta, mas cantam. Usam o Cante para se emocionar», diz a certa altura um dos entrevistados do filme de Trefaut.

Agora, podem escrever os pundits, o Cante é do Alentejo e da Humanidade.

O nome de Portugal anda nas bocas do mundo (e não é só por um estabelecimento prisional de um outro património da UNESCO chamado Évora, estar a albergar um ex-Primeiro Ministro).

Na semana passada, Carlos do Carmo trouxe para cá o primeiro Grammy português e ele próprio sentiu necessidade de falar de um povo «com características muito peculiares» no discurso de agradecimento. E vendo bem, Portugal não fica nada mal tratado se usarem o Cante, o Fado, o rock desmedido de um Tigerman, as guitarras diletantes de uns Dead Combo, a babilónia rítmica de uns Buraka ou a naturalidade com que um Ride trata o turntable, para o descrever.

Não fica nada mal tratado não senhor.

(Texto: Rita Tristany Barregão para o Portugalize.Me/ Imagem: Imenso Sul Alentejo)