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A vida numa mercearia da aldeia

27 Fevereiro, 2014

A Venda_Taberna e Mercearia

Portugal, país de êxodo, de procura, meio nómada, solto. É raro encontrar uma família em Portugal que não tenha no seu seio um cunho migrante. Temos esta relação aparentemente desprendida com o espaço. Vamos porque necessitamos, por curiosidade, porque amamos outra cidade, outro país, por tantas razões. Cada família terá certamente uma história de idas para contar.

Mas também há histórias de regressos.

Algures perto de Grândola, numa aldeia chamada Silha do Pascoal, abriu uma mercearia. Aliás, reabriu, com um espírito novo, revitalizado, mais moderno. Foi o regresso de uma filha da terra que ditou a sua continuidade (a da mercearia a ditar as histórias da terra entre 1963 e 2008). Antes de ser mercearia era a taberna da aldeia. Lugar de grande importância para uma aldeia. Mais do que tabernas, estes espaços eram muito plurais e com uma forte componente comunitária. Vendiam os bens essenciais de mercearia às suas populações, fazia-se um telefonema para os filhos que estavam longe, ia-se buscar o correio, deixava-se correio e dois dedos de conversa.

Belinda Sobral regressou porque nunca esqueceu a aldeia onde cresceu e a mercearia onde foi criada: A aldeia e a mercearia não me saíram da cabeça., escreve assim. A Venda trouxe novo ânimo à pequena aldeia que nem no mapa vem e o seu dia a dia é relatado pela Belinda. Ela faz questão disso, de partilhar a sua aventura, de mostrar que a vida na aldeia pode ser desejada, ao ponto de fazer regressar, de fazer ficar.

A Belinda foi, viajou, andou, conheceu e depois regressou para ficar, em Silha do Pascoal, com os amores da sua vida. No meio das várias histórias que ela vai partilhando, a Belinda escreveu uma carta à sua filha sobre o ir, o ficar, o lugar da felicidade, da tristeza, das dualidades inerentes à vida. Se puderem leiam para que, com a ajuda das palavras e do olhar da Belinda, possam descobrir novos lugares, aqui ou lá fora.

A felicidade não está num lugar, a felicidade parte de ti em direção ao lugar onde estás. Podes procurar todos os lugares e, em todos eles, irás encontrar alegria e tristeza. Tu és quem terá de escolher com qual das duas queres viver. Mas se puderes viaja, se puderes fica. O nosso país é tão lindo, nele vais conhecer pessoas maravilhosas, paisagens fabulosas, tradições que valem a pena. Se puderes não te envergonhes do país que tens. Mas, se puderes, procura a verdadeira cultura que existe nas pessoas mais simples.” (Belinda Sobral in naminhamercearia.blogspot.pt)

A minha mercearia_Belinda Sobral

(Texto: Raquel Félix/ Portugalize.Me/ Imagem: Belinda Sobral)