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Portugalize.Me_TAXI

Continuo fascinada pelos inúmeros tópicos de conversa que se podem ter com uma das classes profissionais mais representativa da realidade de um local, a dos taxistas – “taxinistas”, na nomenclatura da minha sobrinha mais nova, que aqui adopto. 

Não é complicado meter conversa com um taxinista: a maioria dos motoristas gosta de uma boa converseta com os passageiros, e eu não me faço rogada. Dêem-me a ponta de um dedinho de conversa, que eu levo todo o braço, muito obrigada.

Na sexta passada, numa corrida de táxi em pleno horário da tarde, fui instruída – apesar de não ter visto qualquer prova estatística que confirme esta afirmação – que existe uma certa prevalência de diabetes entre esta classe profissional, isto porque os motoristas se distraem, confiam cegamente nas capacidades do seu pâncreas e passam muitas horas sem se alimentar. Quando o fazem, muitos deles param num qualquer quiosque e matam a fome com algo pouco saudável, gorduroso e excessivamente doce ou salgado – ou seja, “saboroso”, aqui entre nós que ninguém nos ouve.

Suponho que não há-de ser a única classe profissional afectada por esta doença crónica, mas adorei ouvir as considerações enquanto ia do Parque para o Chiado. Que muitos colegas andavam sempre com farnel de iogurtes e frutas no veículo; que muitos colegas precisavam de parar de conduzir para fazer uma refeição equilibrada; que essa paragem, invariavelmente, significava um decréscimo de rendimento, porque numa hora muita coisa podia acontecer. Que enquanto os colegas faziam 50 ou 60 euros, este motorista, que não parava para almoçar (ai o pâncreas), fazia os seus 100 euros. Que, tirando as horas de ponta, a hora de almoço e a tarde eram sempre mais movimentadas, sobretudo à sexta-feira.

E quem não gosta de saber destas coisas? Eu adoro. Mas não sou a única.

Aqui há uns anos, aconteceu ter de ir buscar a minha sobrinha mais velha à escola e depois ter de ir tratar de uma série de documentos de que precisava. Como o tempo era pouco, entrámos as duas para um táxi e lá fomos nós, ruas de Lisboa acima, ruas de Lisboa abaixo, até à repartição que me competia. E qual não foi o meu espanto ao descobrir naquele cotomiço de gente, na altura com os seus quatro anos, uma adepta da converseta com o taxinista? O motorista, ao volante, não conseguia esconder o seu agrado ao ouvir as considerações dela sobre as ruas apertadas que sobem e que descem e que parecem um carrossel, os carros, os cintos de segurança, as pessoas nos passeios.

Perante tal espectáculo, tal maestria revelada por tão precoce conversadora, reduzi-me à minha posição de observadora interessada. Naquele momento só me faltaram as pipocas.

Para a semana, lembrem-me de falar sobre as conversas que tenho com cabeleireiros, sim? Que aí também temos pano para mangas…

(Texto: Ana Isabel Ramos para o Portugalize.Me/ Imagem: Raquel Félix – Portugalize.Me))