Medo

20 Agosto, 2013

Portugalize.Me_Medo

Há umas semanas atrás fui dar sangue pela primeira vez. A par de uma sensação de estar a flutuar, a pairar, por saber que ia vencer um medo que tinha, levava um nervoso miudinho na cabeça.

Há já vários anos que quero dar sangue, mas sempre arranjei uma desculpa conveniente para não o fazer. Primeiro foi a questão do peso: sempre estive ali a rondar os 50 kg, e os dadores têm de estar acima desse limite. Depois foi a questão da oportunidade: rapidamente não dava jeito naquele momento, por uma razão ou outra. Uma vez, quando vivia em Buenos Aires, voltava eu a casa depois da aula de alemão e lá estava uma tenda de campanha numa das artérias pedonais da cidade, a interceptar os transeuntes e a tentar convencê-los a dar sangue. Nesse dia, a minha razão foi que estava com pressa. Na verdade, tinha mesmo era fome.

E apesar de todas estas razões serem válidas e verdadeiras, elas são também convenientes. Eu sabia que a fome se resolvia com facilidade, nem precisava de chegar a casa para o fazer. E também fiquei com a informação de onde podia ir dar sangue, a qualquer momento que me fosse mais conveniente. Mas nunca fui.

E o porquê é, muito simplesmente, medo. Tinha medo, e é tão cómodo adiar.

Desta vez, comecei a ver os cartazes a anunciar a campanha de recolha em todas as montras do bairro e aos poucos fui-me habituando à ideia. Desta feita queria mesmo vencer este medo, queria sentir que não arranjava desculpas e que finalmente daria esse passo.

E a verdade é que não custou nada. Na semana seguinte senti-me mais cansada que o normal, e foi tudo.

Saí de lá quase eufórica: vencer aquele medo fez-me sentir que posso vencer qualquer medo que eu queira ultrapassar. Que os obstáculos que eu própria levanto, dentro da minha cabeça, não são definitivos e insuperáveis, pelo contrário. Basta mentalizar-me e tentar, uma, duas, várias vezes se for necessário.

Há medos que não quero vencer e não tenho qualquer problema com isso. (Skydiving? Não, obrigada.) Outros há que vale a pena, um a um, ir enfrentando. É muito bom descobrir que sou muito mais super-mulher do que pensava.

E vocês? Que medos venceram ultimamente?

(Texto e imagem: Ana Isabel Ramos)