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Memoria_Berlim_Portugalize.Me

Não tenho jeito para “escríticas” políticas (roubo o termo escrítica ao MEC). Quando falo o discurso sai-me irado, em tom de protesto, revoltado, em modo de disparos para todos os lados, por julgar que há sempre alguma coisa a apontar a uns e a outros, a todos.

Mesmo assim, apesar da minha revolta, julgo que a importância de se falar, opinar e idear sobre política deva estar presente nas nossas cabeças e sair delas, mesmo que seja de vez enquanto, por breves instantes apenas.

No passado Domingo, eu fui votar. Tentei demover mais duas pessoas para o acto eleitoral. Uma foi bem bem sucedida, a outra, falhou. Presa aos 50% de hipóteses pelo meu acto de cidadania, pensei que a abstenção viesse a ser menor do que em anos anteriores, apesar do futebol, apesar do rock, apesar das projecções apontarem para o contrário.

E foi o contrário, 66,1% dos portugueses não foram votar.

No dia seguinte li e ouvi muita gente mandar outras “pastar”, “catar macacos”, “meterem-se nas suas próprias vidas”… muitas “porras”, “merdas” e “cavalhadas”, palavrões sem fim, angústias reprimidas, chinelos no pé, mãos na anca para desancar, achincalhar… o mote de tanto fel não era o resultado das eleições em si, mas a defesa do direito ao não voto.

Foda-se! Andamos tão cheios de nós, com o peito inchado por direitos próprios que, durante as 24h seguintes às eleições, foi mais importante falar-se do direito ao não voto do que do panorama medonho que se acabava de instalar na Europa.

O berço da democracia moderna, a velha Europa, fonte de inspiração da Primavera Árabe, acabava de abrir as portas ao neonazismo e, muitos de nós, acordaram indignados pela carapuça do direito ao não voto, por serem chamados a uma razão que não é mais do que isso, uma razão, não a razão.

A diversidade, as minorias, a livre escolha, a democracia, os peitos cheios de direitos feitos propriedade particular saem fortemente feridos destas eleições.

O passado não nos ensinou o suficiente? Quantos de nós o conhecem? Quantos o levam a sério?

Ao que parece, poucos, muito poucos…

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(Texto e imagens: Raquel Félix – Portugalize.Me)